“Eu pensei que fosse uma bomba, pois sempre tem essas coisas por aqui”
A fala da menina, na porta da Escola Municipal Tasso da Silveira, após a tragédia mais cruel de que se tem notícia aqui no Brasil, é sintomática e não deixa dúvidas : A escola virou definitivamente um ambiente permeado pela violência manifestada em todas as suas formas, física, simbólica, moral etc.
Há muito que se ouve, sem tem notícia e se sabe de casos de professores agredidos verbal e fisicamente , e até ameaçados por armas de fogo, alunos que se engalfinham entoando cantos de guerra de facções do tráfico, bombas, depredações, pichações etc.
O ambiente escolar além de não ser atraente pros jovens, tornou-se também muito perigoso, pra todos que ali frequentam, alunos, professorres e familiares.
Portanto, sinceramente, nesse momento tão doloroso, pouco importa saber se o “cara” como disse o governador, é um animal ou um psicopata. Pouco importa, se o “modus operandi” foi inspirado em Columbine ou se o crime foi motivado por fanatismo religioso. Não quero saber nada disso.
O que eu quero é que alguma autoridade se pronuncie de forma clara e o mais rápido possível pra falar sobre o que será feito de maneira radical pra mudar a segurança de nossas escolas daqui pra frente; pra que uma pessoa não entre dizendo que vai fazer uma palestra, sem sequer ter seu nome checado na entrada, e dispare mais de cem tiros pra cima de crianças indefesas! Pra que uma menina de 12 anos não fale em rede nacional que jogam bombas “por ali”, na maior naturalidade desse mundo!
Ou vamos optar por continuar dando ênfase aos policiais heróis que aparecerão no Jornal Nacional? Vamos continuar ouvindo o nome do assassino ser repetido um milhão de vezes, continuar assistindo passivos e morbidamente curiosos aos especialistas e psicólogos convidados dos próximos dias na televisão? Ou dando entrevista a jornalista da Globo News na laje “privilegiada” de uma moradora?
Aonde nós vamos parar? Que novo país é esse que estamos construindo em que num momento como esse não se para pra analisar, refletir e se inclinar seriamente pra mudar esse quadro nitidamente falido que é o da segurança de nossas crianças e adolescentes no ambiente escolar brasileiro.
Será que essa é a maneira que nós como sociedade, vamos escolher para acabar de vez com a educação, já tão debilitada e relegada a sabe-se lá que plano em nosso país? Vendo a vida de nossos alunos ser retirada na própria sala de aula – meu Deus! – em crimes que poderiam (sim) serem evitados .
O prefeito do Rio de Janeiro, que dias atrás se disse aliviado por não entrar pra história como aquele que fechou o “Amarelinho”, agora aparece dizendo que a Escola onde ocorreu a tragédia deve permanecer aberta, pois é essa a função social dela etc_ Fechar o Amarelinho, fechar a escola, abrir um fechar o outro ou vice-versa, sinceramente parece fazer pouca diferença nessa equação política, na qual não me aventuro sequer especular.
O fato é que as crianças que choramos hoje, nós não recuperaremos mais, mas e o amanhã? E as crianças e jovens que ficaram , os sobreviventes de todo o Brasil, que amanhã terão que ir pras suas salas de aula viver mais um dia de insegurança e de medo?
Eu termino com a mesma frase que iniciei esse desabafo, que muito me chocou, da menina que deu entrevista a um telejornal do Rio logo após a tragédia:
“Eu pensei que fosse uma bomba, pois sempre tem essas coisas por aqui”
Não podemos naturalizar isso de jeito nenhum. Devemos uma resposta digna , contundente e imediata a essa aluna da Escola Tasso da Silveira , que hoje, dia 7 de abril, simboliza o luto e a luta pra que se implante de uma vez por todas uma Educação digna e humana no Brasil.
Chega!
Adilson Filho, Professor da Rede Estadual do Rio de Janeiro
Fonte: cartacapital.com.br