O periódico científico Journal of Forensic Identification publicou na edição de janeiro de 2015, um trabalho escrito pelo perito papiloscopista federal, Carlos Magno Alves Girelli. O jornal é um dos mais importantes do mundo na área de impressões digitais.
O artigo, intitulado “Laterally Reversed Fingerprints Detected in Fake Documents” (“Impressões Lateralmente Revertidas Detectadas em Documentos Falsos”), relata um caso analisado pelo Grupo de Identificação da Superintendência Regional no Espírito Santo, envolvendo supostos crimes de fraude contra uma instituição bancária, mediante uso de documentos falsos. Mais de cem cópias de documentos de identidade foram reunidas e enviadas para exame de impressões digitais.
Os exames de confronto papiloscópico buscaram identificar a autoria das impressões questionadas, comparando-as entre si e com as impressões digitais armazenadas no AFIS.
A conclusão dos especialistas foi de que, na verdade, algumas das impressões digitais analisadas eram, na verdade, reversões laterais de outras, como se vistas a partir de um espelho. Com isso, mais impressões digitais foram agrupadas e atribuídas a uma mesma autoria, reduzindo o círculo de suspeitos.
Figura 1. Impressões lateralmente revertidas detectadas em cópias de dois documentos distintos (J. For. Ident. 2015, 65 (1), 1-17).
Figura 2. Confronto entre impressões lateralmente revertidas detectadas em cópias de dois documentos distintos (J. For. Ident. 2015, 65 (1), 1-17).
Em sua análise, Magno afirma que o processamento padrão, tanto no AFIS da Polícia Federal do Brasil, quanto nos demais em geral, não considera a possibilidade de reversões. Assim, na pesquisa de uma impressão qualquer, mesmo que a sua impressão revertida esteja armazenada no sistema, em geral ela não constará na lista de candidatos mais prováveis apresentada pelo AFIS. Comparar duas impressões digitais e perceber que uma é a reversão da outra é uma tarefa muito difícil e improvável, com ou sem auxílio do AFIS.
O fato levou especialistas a questionarem se casos de falsificações utilizando impressões invertidas havia acontecido antes, o que resultou em ampla pesquisa do assunto e na realização do artigo.
Em sua conclusão o perito papiloscopista propõe a adoção de um procedimento específico para comparação de impressões digitais quando a situação admitir razoável possibilidade de existência de reversões laterais. A proposta é que em tais situações sejam pesquisadas tanto a impressão questionada quanto sua reversão lateral, podendo ser facilmente obtida no próprio AFIS ou com auxílio de software de edição de imagens.
O autor considera a publicação de um artigo neste periódico, uma conquista de toda a categoria. A visibilidade de trabalhos dessa natureza promove a interação do Brasil com os demais países nessa área do conhecimento, podendo inclusive gerar influência sobre pesquisadores e policiais do mundo inteiro.
Ele afirma também que desde a redação do artigo, o Grupo de Identificação da Polícia Federal no Espírito Santo vem aplicando a rotina de comparar impressões questionadas e suas reversas ao lidar com suspeitas de falsidade documental e os resultados têm causado surpresas.
Carlos Magno Alves Girelli é perito papiloscopista policial federal há 10 anos. Mestre e Doutorando em Física, Especialista em Política e Gestão em Segurança Pública e Bacharel em Direito.
Para maiores informações: girelli.cmag@gmail.com.
Fonte: Agência Fenapef