'A gente entende que há uma corrupção muito grande dentro do alto escalão da Polícia Militar', diz Karla Sandoval' (clique aqui) e (clique aqui)
20/12/2010 – 12h12 – Atualizado em 20/12/2010 – 12h12
gazeta online
LETÍCIA GONÇALVES
A promotora de Justiça Militar Karla Sandoval, que arquivou o caso do coronel da Polícia Militar Julio Cezar Costa, diz que, durante a apuração, descobriu indícios de crimes cometidos pelo alto escalão da PM capixaba. Durante as investigações do Ministério Público, o próprio Julio Cezar entregou documentos à promotoria que contêm os indícios de crimes. A promotora Karla Sandoval avalia que as denúncias são graves. "Os indícios de crimes são de desvios de recursos públicos, falsidade de documentos, falsidade ideológica e a gente entende que há uma corrupção muito grande dentro do alto escalão da Polícia Militar".
O coronel Julio Cezar é o que, em julho, ligou para o Centro Integrado de Operações e Defesa Social (Ciodes), pedindo que um oficial fosse enviado ao local em que um advogado amigo dele sofria uma abordagem de trânsito. Na ocasião, ele também se referiu à Polícia Militar com palavras de baixo calão, o que veio a público após o vazamento de um áudio do Ciodes.
Sobre esse caso, a promotora diz que não houve crime militar. Já se a conduta do coronel foi correta ou não a promotora salienta que cabe à própria Polícia Militar apurar. Na última sexta-feira (17) o procurador do Ministério Público Sócrates de Souza, que acompanhou o caso do coronel, disse que o Ministério Público não poderia avaliar se houve ou não crime militar relativo à conduta de Julio Cezar e que isso, assim como a abertura de um procedimento disciplinar, ficaria a cargo da PM. Sócrates disse ainda que o Conselho do Ministério Público poderia anular o arquivamento do caso.
As denúncias da promotora
Segundo Karla Sandoval, os documentos enviados pelo comandante geral da Polícia Militar, coronel Oberacy Emerick Júnior, ao Ministério Público relativos ao caso do coronel Julio Cezar, teriam indícios de falsificação. Mas não detalhou o que teria sido falsificado.
Ela denuncia também superfaturamento de mais de 100% nos preços de consertos das viaturas. De acordo com Karla Sandoval, somente um contrato analisado pode ter causado prejuízos de milhares de reais aos cofres públicos. Entre os artifícios estão a utilização de peças usadas que eram classificadas como novas e apresentação de notas fiscais que se referiam a modelos de veículos que não são utilizados pela Polícia Militar.
Outro indício de crime citado pela promotora são notas fiscais de pagamento de serviços que teriam assinatura falsa, o que pode ter provocado "enormes desvios de recursos no erário, talvez durante anos", como citado em um "esclarecimento à imprensa" entregue pela promotora. O texto diz ainda que há "indícios de improbidade administrativa em várias ações por parte do Comando Geral da Polícia Militar".
A promotora não cita nomes e diz que não pode fornecer mais detalhes porque deve manter sigilo sobre as provas. O material será enviado à Corregedoria da Polícia Militar para a abertura de um inquérito policial militar.
A promotora alerta ainda que o tenente-coronel Valdir Leopoldino da Silva Júnior, ex-comandante do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, que perdeu o cargo após ser apontado pelo Ministério Público como chefe da "máfia dos guinchos", pode ser promovido a coronel por meio de indicação do comandante geral ao atual governador do Estado, Paulo Hartung.
A promoção, segundo a promotora, não pode ocorrer porque o processo referente à máfia dos guinchos ainda corre na Justiça Militar.
Em nota, a Polícia Militar diz que estranha as declarações da promotora pede cautela na divulgação de informações de indícios ainda não investigados.
Veja a nota na íntegra:
"O Comando Geral da Polícia Militar estranha as declarações da Promotora de Justiça Karla Sandoval justamente por ter remetido toda a documentação referente ao caso ocorrido com o Cel. Júlio Cézar para análise do Ministério Público.
O Comando Geral da Polícia Militar destaca que o Ministério Público incumbiu um Procurador de Justiça e a própria Promotora para avaliarem o caso e ressalta que não houve concordância nos pareceres, restando, portanto, a decisão do Ministério Público pendente de conclusão.
O Comando Geral aguarda o Relatório Final do Ministério Público para adotar as medidas sugeridas pelo órgão, inclusive as de ordem disciplinar.
Além disso, espera que a representante do órgão Ministerial tenha cautela e responsabilidade na divulgação de informações de indícios ainda não investigados, destacando ainda que as denúncias feitas pelo Cel. Júlio César Costa sobre eventuais irregularidades cometidas por membros do Alto Comando também foram remetidas para apreciação do Ministério Público pelo próprio Comando Geral da corporação."
O coronel Julio Cezar Costa, em contato com nossa reportagem, informou que está proibido de dar entrevistas pelo comando da PM. Por este motivo, não tem se manifestado sobre o caso.