“Nesta quarta-feira (30), será realizada pelas associações representativas dos militares capixabas, uma consulta de intenção de voto junto ao efetivo policial para levantar possíveis nomes que possam representar os militares nas eleições de 2006 para a Assembléia Legislativa, Câmara dos Deputados e até mesmo, numa tentativa ainda mais ousada, o governo do Estado.”
(…)
“Queremos representatividade. Uma pessoa que conheça realmente a categoria, e que com isso consiga desenvolver projetos interessantes e importantes para a área da Segurança Pública”, afirmou o capitão Augusto Picolli, vice-presidente do Clube dos Oficiais. (Fonte: seculodiario.com).
Logo que essa idéia surgiu entre os colegas das Associações dos Policiais Militares, capitaneada pelo capitão Augusto Picolli – um grande amigo -, relatei-lhe, pessoalmente, minhas preocupações com os rumos que a assunção de um movimento desse tipo pode trazer para os policiais.
Evidentemente, trata-se de uma idéia inusitada e bem intencionada e que precisa ser debatida com maior profundidade.
Temos, e já tivemos, na Assembléia Legislativa, inúmeros representantes da categoria policial, tanto civil, quanto militar. Por lá passaram dois cabos, um soldado, um investigador, médicos legistas, alguns delegados e coronéis. Alguns deles, muito populares entre os policiais. A grande maioria começou bem seus trabalhos, ouvindo a categoria. Mas, ao longo dos mandatos foram sendo criticados e terminaram sendo motivo de inúmeras críticas por parte dos policiais.
Observa-se que as críticas se dirigem, principalmente, ao fato de os policiais sentirem que os eleitos não conseguem levar a cabo as promessas de defesa dos direitos da categoria.
Vários projetos agraciando a categoria policial são apresentados pelos representantes eleitos. Quase sempre os eleitos estão a postos para não permitir que projetos prejudiciais aos policiais passem sem uma discussão ou obstrução, tentando fazer valer a voz da categoria.
Por que, então, todos os eleitos começam bem seus mandatos e terminam sendo duramente criticados?
Sob a minha visão a questão é de uma simplicidade cristalina, e comungo neste particular com o pensamento de um dos representantes eleitos dos policiais, ex-deputado Gisinho Lopes: a máquina partidária, os interesses das coligações políticas, a consciência dos eleitores e o sistema eleitoral brasileiro impedem que qualquer cidadão eleito seja capaz de se auto-afirmar como representante de apenas um segmento popular.
Naquela época, o ex-deputado Gilsinho, juntamente com outras lideranças locais e nacionais, estava lutando para criar o Partido dos Policiais Brasileiros. Por vários fatores, a iniciativa não vingou.
Tempos antes, inclusive, alguns sindicalistas tentaram criar na Intersindical dos Servidores Públicos, o Partido dos Servidores Públicos. Mas não se logrou sucesso.
No sistema atual, ou o eleito estende suas possibilidades eleitorais para outros ramos populares ou estará fadado ao insucesso.
Nem mesmo os professores, que são seguramente a maior categoria do serviço público e poderiam, sozinhos, fazer um de seus pares ter sucesso em qualquer eleição, tanto estadual, quanto federal, conseguem tal proeza.
Aliás, em encontros com representantes de Entidades Sindicais dos professores, a reclamação é exatamente a mesma que se verifica em todas as demais categorias: alegam que seus representantes os procuram antes das eleições, prometem mundos e fundos e depois de eleitos não assumem ou não conseguem assumir os compromissos firmados.
O maior exemplo do País é o próprio Presidente da República: um ex-sindicalista, apoiado incondicionalmente por quase todas as lideranças sindicais da nação, e que se encontra sendo durante criticado pela omissão demonstrada. Simplesmente porque não consegue por em prática quase nada do que prometeu aos trabalhadores antes de ser eleito.
As entidades sindicais que o apoiaram caíram num descrédito jamais visto e o movimento sindical está sentindo terrivelmente os revezes do engajamento direto na campanha presidencial.
Numa conversa reservada com Augusto Picolli, relatei essas ponderações, e ele, como sempre com sua inteligência perspicaz, disse-me: – “Tadeu, elegemos o cara, e se ele não cumprir o que prometeu, acabamos com a carreira política dele.”
Virei-me, então, para o Capitão Augusto e afirmei: meu irmão, não vamos fazer outra coisa a não ser eleger e acabar com a carreira política dos outros.
E por que tanto pessimismo, demonstrado por minha pessoa? Exatamente pelo exposto linhas acima: o sistema, com suas regras impiedosas, suga, traga, oprime, submete e massacra qualquer eleito. Ou o eleito se engaja nas normas estabelecidas e nas alianças políticas, ou estará fadado a nadar, nadar e morrer na praia.
Em minha opinião, para que um projeto de tamanha envergadura e que depende de uma consciência política tão aguda dê certo, será necessário alterar sensivelmente o sistema eleitoral do País, a nossa cultura e a nossa visão de coletivo.
Caso cada categoria consiga lançar seus próprios candidatos, compromissados apenas e unicamente com seus interesses, estará criado o sistema de quotas por categorias e aquelas que forem mais fortes tenderão a prevalecer sobre as outras. Uma espécie de ordem natural dos fatores, da Matemática.
Leibnitz já dizia, quando criou o Cálculo Infinitesimal, que nos limites as possibilidades são perfeitamente aferíveis.
Um teste para o sistema democrático, que só depois de implementado poderá ser eficazmente avaliado. Mas que sempre foi visto com reservas.
Antônio Tadeu Nicoletti Pereira
Notícia adicionada em: 12/1/2005 2:00:38 PM