Autor: Danillo Ferreira
Surpreendeu o tom da entrevista concedida pelo Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, ao Jornal O Globo. Numa espécie de desabafo, o Secretário cobrou a presença de outras secretarias do Governo, da Prefeitura do Rio de Janeiro e do empresariado através do que chamou de “investimentos sociais”. Segundo ele, “Nada sobrevive só com segurança. Não será um policial com um fuzil na entrada de uma favela que vai segurar, se lá dentro das comunidades as coisas não funcionarem. É hora de investimentos sociais”.
Em uma outra entrevista, esta para o Jornal O DIA, Beltrame critica o modelo de policial “formado para a guerra”. Segundo ele, “agora ele (o policial) tem que prestar serviço”:
“No momento em que pacifico, que derrubo muros impostos por armas de guerra, por que eu, que estou pacificando, vou usar armas de guerra? Temos que desarmar. E não é tirar a arma do policial. É dar mais uma opção. O fuzil pode ficar na viatura, por exemplo. O foco está no treinamento, na capacitação do policial.”
Leia a entrevista completa n’O DIA…
De algum modo, a entrevista concedida ao Globo é exaustiva em afirmar que o projeto das UPP’s tem cumprido sua parte relativa à segurança, e que a implementação da infraestrutura para que outros serviços do Estado funcionem está deixando a desejar. Aparentemente, algum desconforto político tem atrapalhado as metas das UPP’s estabelecidas pela Secretaria, e Beltrame resolveu partir para o “tudo ou nada”.
Sobre a admissão do Secretário de que a formação policial tem tido uma ênfase equivocada – o direcionamento à “guerra” – provavelmente tal discurso (acertado) está sustentado sobre a recente pesquisa divulgada pelo CESeC, que demonstrou certa tendência insensata dos policiais das UPP’s em se apegar a este modelo. Mas vale dizer que apenas mudar as disciplinas dos cursos de formação é necessário, mas insuficiente. Precisa-se duma mudança mais profunda, que deve atingir os regulamentos, numa revisão ampla que vai desde a política de valorização até a o combate a certos elementos da cultura organizacional. Será preciso muita disposição e apoio político, principalmente no enfrentamento às amarras corporativas. Algo mais difícil, certamente, que conseguir serviços sociais nas UPP’s.
Fonte: abordagem